Amor sem preconceito

Iniciei meu convivio com a Meirinha lá pelos 2, 3 anos de idade. No começo foi difícil, eu me lembro.
Eu não entendia muito bem porque ela era daquele jeito. Sempre muito brava, não me deixava brincar com seus brinquedos, nem mexer em seus lápis coloridos. Eu adorava as roupas dela, os sapatos, tudo. Mas fomos crescendo juntas e aos poucos fui conquistando sua confiança.
Aos cinco anos ela me deu um sapatinho branco que eu adorava e sempre pedia emprestado. Dos cinco aos sete anos comecei a entender, na minha cabecinha inocente, que ela era "especial" e passei a gostar mais ainda dela.
Travou-se então um elo silencioso de poucas palavras, mas muito significativo em nossos corações.
Ela não falava muito, vivia em seu mundo particular. Gostava do Roberto Carlos e das minhas travessuras. Às vezes ficava muito brava comigo, porque eu sempre a irritava dizendo:
-Vem brincar de pega pega Me, vem vai.
Mas ela não queria brincar, queria permanecer em seu mundo.
Bem devagar, eu ia invadindo o mundo dela, aprendia coisas incríveis, que somente os especiais podem ensinar, mas eles precisam querer isso, O que eu chamo "disso" não se pede, não se manda, é alguma coisa muito natural, são sentimentos, espontâneos entende?
Espontaneidade, naturalidade, autencidade, pureza, inocência vital. (saudade)
É um outro tipo de linguagem, muito diferente do que você possa imaginar.
Ela enfim, me permitiu mergulhar nesse mundo diferente do meu, eu já podia entrar sem pedir licença.
Era minha maior conquista no mundo emocional, tão infantil, mas tão impactante na construção de nossa personalidade. Talvez não represente nada pra você, mas pra nós duas, era tudo o que tínhamos, e na verdade não tínhamos nada, apenas sentimentos, sem interesse qualquer. O único interesse era brincar, dar risada, se respeitar, ser feliz! ufa como era bom.
Eu entrava na "casa" dela, e tentava fazê-la entrar na minha, por alguns minutos ficávamos conectadas, de alguma maneira, não sei explicar isso. Ficávamos brincando no corredor, um longo corredor e dávamos muitas risadas juntas. Eu sempre apertava as mãos dela e sentia a reciprocidade, a energia branca. Isso é segurança. Você já sentiu ENERGIA BRANCA?
Nossa infância foi prazerosa e ao mesmo tempo muito tranquila.
Eu aprendi com ela a identificar pessoas, amizades e amor.
Hoje com certeza absoluta quando conheço alguém sempre procuro olhar dentro dos olhos da pessoa. Faço uma inspeção ocular rápida, tentando ver sua alma. Gosto de olhar profundamente nos olhos, não desvio o meu olhar, e quem os devia de mim, jogo num arquivo muito pessoal, que sempre devo queimar.
Não me importo se é gordo, magro, negro, branco, amarelo, feio, bonito, não não, a Meirinha me ensinou que nada disso tem significado, nada disso tem valor.
Jamais observo se a vestimenta é de “marca”, se o carro é novo, se a casa é bonita.
A Meirinha me ensinou que a alma não conhece dinheiro, nem status, nem beleza física, nem cor, nem tamanho, muito menos peso.
Ela me ensinou que a alma carrega valores completamente transcendentais, únicos, importantes, mas que os homens estão se esquecendo...
Tudo vale a pena se a alma não é pequena!
De nada adianta todos esses valores físicos, mortais, perecíveis, fedorentos, é tudo podridão.
A minha alma agradece a Deus por ter me presenteado com essa amizade linda, pura, inocente, que me ensinou desde muito cedo o verdadeiro valor do AMOR.
Meirinha, obrigada por ser minha amiga. Carregarei para sempre suas lições silenciosas, seus gestos e seu olhar, que sempre me fizeram entender tudo o que você queria me dizer.
Sei que dentro desse seu mundo mágico, recheado de paz, você sempre foi uma guerreira da luz!
Namastê

